No último sábado, dia 02, a turma do Pré-Vestibular Social Ilê Èkó do IEAR/UFF (@pre_ileeko) participou de uma atividade inédita na Bacia Escola do Retiro, repleta de simbolismos e aprendizados. A atividade foi especialmente planejada através de metodologias ativas de ensino de modo a integrar, através de uma sequência didática, a visitação de Pontos de Interesse (PDIs) distribuídos pela Bacia Escola do Retiro com reflexões críticas e resolução de questões do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), avaliação utilizada para ingresso nas universidades públicas federais.
No PDI do Casarão Histórico os alunos foram sensibilizados sobre o simbolismo daquela turma, constituída em sua maioria por grupos sociais vulnerabilizados, visitarem o casarão sede da antiga fazenda do Retiro, que há séculos atrás explorava a mão de obra dos negros escravizados vindos da África. A transformação histórica de um antigo espaço de opressão para uma casa de saber que atualmente oportuniza a centenas de alunos, professores e comunitários uma formação em educação ambiental foi evidenciada durante as falas. Neste local também foi destacada a importância da política pública de expansão e interiorização das universidades, além da lei de cotas e políticas de assistência estudantil.
No PDI da Praia a turma participou de uma dinâmica que aproveitou a paisagem que abrange a praia, a baía e as montanhas da Serra do Mar para apresentar a história evolutiva do relevo ao longo de milhões de anos. A partir da visualização do relevo foi possível compreender as características e o funcionamento das bacias hidrográficas no território de atuação do Comitê de Bacia Hidrográfica da Baía da Ilha Grande (@cbh_big). Com base nestes ensinamentos, a turma discutiu e resolveu algumas questões do ENEM que tratavam, por exemplo, sobre erosões nas encostas, assoreamento de canais e alagamentos nas planícies.
Os impactos socioambientais da agricultura convencional e a alternativa da agricultura ecológica (Agroecologia) são temas recorrentes nas provas do ENEM e diversas questões foram resolvidas com base nas práticas agroecológicas promovidas pelo Núcleo de Estudos em Agroecologia - Agroecologia Incentivando Práticas Integrando Movimentos (NEA AIPIM - @nea.aipim) da #UFFangra (@iear_uff). Os pré-vestibulandos puderam conhecer as áreas plantadas no campus Retiro da UFF com cultivos de diversas espécies, como o aipim, cana de açúcar, cacau, quiabo, milho, feijão, dentre outras. Conheceram também um sistema agroflorestal (SAF) inserido em meio ao fragmento de vegetação secundária de Mata Atlântica existente na Bacia Escola do Retiro, local que há pouco mais de um século era desmatado por práticas agrícolas convencionais.
Por fim, o relevante papel funcional das florestas e dos sistema e tratamento de água foram abordados sob seus aspectos hidro-ecológicos. A vegetação possui participação ativa no ciclo da água e infiltração da água no solo, promovendo a recarga de aquíferos e a oferta hídrica nos mananciais de abastecimento. Nos mananciais da Baía da Ilha Grande operados pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (@saaeangra) esta água é geralmente captada através de pequenas barragens que direcionam o fluxo para sistemas de cloração da água, fundamentais para garantir a qualidade da água distribuída para a população.
Pré-Vestibular Social Ilê Èkó do IEAR/UFF (clique aqui para acessar o site)
O termo “Ilê Èkó” vem da língua iorubá e significa casa do saber, da aprendizagem, do ensino. Com esse termo queremos reforçar a função social da universidade, um espaço de produção coletiva de conhecimento – onde todes têm a ensinar, todes têm a aprender – em prol da justiça social. Do mesmo modo, é uma homenagem, uma reparação simbólica mínima, aos milhares de africanos sequestrados que ingressaram em território brasileiro via a costa de Angra dos Reis. Assim como esse local foi um posto de ingresso de seres humanos no mundo tenebroso da escravidão, o Pré Èkó, ao inverter essa lógica, tem a intensão e a missão de tornar a “travessia” até a universidade mais amena.
O Pré Èkó tem como objetivo orientar e preparar, de forma crítica e humana, estudantes para o ingresso no ensino superior em universidades públicas. É uma iniciativa gratuita voltada para egressos de escolas públicas e pessoas em geral que têm dificuldades para custear um cursinho pré-vestibular, particularmente pessoas negras, quilombolas, indígenas e pessoas trans, bem como, moradores de comunidades carentes e comunidades tradicionais.